Do Arraial do Tijuco a Diamantina: a sedução das “pedras”
Como já foi mencionado, Bernardino ocupava o posto de alferes e era homem de confiança do intendente Câmara, ou seja, do desembargador Manuel Ferreira da Câmara Bitencourt e Sá, que foi testemunha de seu casamento. Deve-se aqui registrar que este intendente foi o primeiro brasileiro a ocupar tal posto, antes reservado apenas a portugueses.
O Arraial do Tijuco, onde viveu o alferes Bernardino, teria começado com a descoberta de ouro pelas expedições denominadas “Bandeiras Mineiras”. Segundo historiadores, em 1701 formou-se uma expedição chefiada pelo então guarda-mor Antônio Soares Ferreira com vários companheiros – entre eles o Padre Antônio Mendanha de Souto Mayor, que exerceu suas funções na Matriz do Serro Frio desde 1713. Com a obtenção de sesmaria nas proximidades, casou-se e teve vários filhos, o que deu orígem à localidade de Mendanha (Arquivo Público Mineiro, Arquivo Colonial, Livro de Provisões, Patentes e Sesmarias, 1717-1721, 1ª secção, n. 12).
Com a descoberta do ouro no Brasil, operou-se uma intensa transmigração de judeus para esta terra, principalmente para Minas Gerais, os quais, inicialmente, se fixaram na região do Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, e depois se espalharam por toda a província, em uma grande corrida do ouro. Leal, W.R. Oliveira, em Os Judeus em Minas Gerais – Cristãos Novos, narra: “Bandos imensos de judeus e cristãos-novos atiraram-se para as terras do ouro, fugindo das importunações do Santo Ofício […] Pelos livros de navegação, pode-se, em cálculo aproximado, estimar que, de 1705 a 1750, mais de 20.000 pessoas deixavam anualmente Portugal em busca do Brasil”, e metade deles deveriam ser cristãos-novos.
Segundo o historiador Joaquim Felício dos Santos, no livro Memórias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio, 1976, Ed. Itatiaia, 4ª edição, p.49, “As lavras do Tijuco até o ano de 1729 foram consideradas como puramente auríferas, e portanto sujeitas ao regimento dos superintendentes e guardas-mores das terras minerais”. Mas o grande acontecimento do Tejuco seria a descoberta dos diamantes.
Augusto de Lima Júnior, narra que “Em 1714, um certo faiscador, de nome Francisco Machado da Silva, partindo uns blocos de cristal […] encontrou uma pedrinha dura e clara que guardou com curiosidade, dando-a depois a Luiz Botelho de Queirós, no Serro do Frio. A pedra teria sido encontrada na lavra de São Pedro, no córrego do Machado ou Pinheiro, junto a Serra da Lapa. Na mesma época […] no córrego denominado Mosquito, deparou Machado com outras pedras iguais à anterior, dando umas a José Leitão de Oya e outras ao Capitão de Dragões João de Almeida e Vasconcelos. Este mandou lapidar uma delas e verificou tratar-se de diamantes. O segredo, porém, foi guardado pelos interessados que continuaram a obtê-las em grande quantidade dos ingênuos faiscadores de ouro, que as cediam aos quilos, pensando que eram aproveitadas como tentos nos jogos de Triunfo e de Renegada.[…]. Em 1721, na lavra aurífera do córrego morrinhos, de propriedade do português Bernardo da Fonseca Lobo, um seu feitor de nome Francisco Teixeira, natural do Porto, bateando por suas mãos, encontrou uma dessas pedras que entregou a seu patrão. Já havia então um verdadeiro derrame delas que iam sendo encontradas […] em lavras próximas de um arraial que se formara com o nome de Tijuco, junto de uma capela a cavaleiro de um ribeiro chamado de Santo Antônio.” (vd. Augusto de Lima Júnior, A Capitania das Minas Gerais, Ed. Itatiaia, Belo Horizonte/MG, SP: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1978, p. 56/57).
Contam que um frade que residira no Oriente, encontrando-se no Arraial do Tijuco, atentou para as “pedrinhas”, que reconheceu tratarem-se de diamantes, e seu grande interesse por elas despertou desconfiança do dono, Bernardo da Fonseca Lobo, que confiou o estudo das mesmas ao governador D. Lourenço de Almeida, que as reconheceu logo como magníficos diamantes, mas nada revelou ao dono, pedindo-lhe, porém, insistentemente, que lhe mandasse mais daquelas “pedrinhas”.
Quando Bernardo da Fonseca Lobo teve conhecimento que as ditas pedras eram diamantes, muito tempo já havia passado, e mesmo assim, continuou a remetê-las ao governador D. Lourenço, mas junto às pedras mandava uma correspondência dizendo que “as pedrinhas que mandava eram diamantes dos bons e que por isso os tivesse em boa guarda”.
Tempos depois, o governador da Capitania de Minas, D. Lourenço de Almeida, mandou alguns diamantes ao Rei D. João V, em Portugal, informando ser Bernardo da Fonseca Lobo o descobridor das pedras, como se vê na Revista do Arquivo Público Mineiro, VIII, p. 363. E, em 1734, por carta régia, D. João V reconheceu oficialmente a Bernardo da Fonseca Lobo como descobridor dos diamantes. Em remuneração pela descoberta, foi nomeado tabelião e capitão-mor da Vila do Príncipe.
Com a notícia de descoberta de ouro em Minas Novas do Fanado, Bernardo da Fonseca Lobo tomou seus melhores escravos e para ali partiu, deixando suas lavras e roças do Caeté-Mirim e Morrinhos entregues a um moço pobre que com ele vivia, de nome José Ribeiro.
Registra-se aqui, por oportuno, que o nome da localidade se deve ao fato da descoberta de ouro ter acontecido no sítio onde um cristão-novo de nome Faria mantinha uma estalagem. “Fanado” significa “circunciso”.
A extração de ouro e diamantes tornou-se privativa da Real Fazenda, sob a direção de contratadores, intendentes e demais funcionários.
O primeiro contrato de extração de diamantes, datado de 1740 e depois renovado, durou até dezembro de 1747 e coube a João Fernandes de Oliveira, sendo Gomes Freire de Andrade o governador da Capitania e Rafael Pires Pardinho o intendente do Tejuco. Em 1748, mediante novo contrato até dezembro de 1751, passou a contratador Felisberto Caldeira Brant, o qual se associou a seus irmãos Sebastião, Joaquim e Conrado, sendo intendente Sancho de Andrade Castro e Lanções. Por perseguições políticas, Felisberto Caldeira Brant foi preso e enviado para Lisboa, perdendo todos os seus bens. Seu filho Gregório, que veio ao Brasil com a finalidade de reaver os bens do pai, faleceu em Mariana, onde deixou dois filhos menores, os futuros Marquês de Barbacena e Visconde de Gericinó.
De 1753 a 1761, voltou a ser contratador João Fernandes de Oliveira, junto a seu filho do mesmo nome, sendo intendente Tomaz Rubi de Barros Barreto e governador José Antônio Freire de Andrade.
O sexto e último contrato, que durou até 1771, coube a João Fernandes de Oliveira, o qual veio a falecer em Lisboa em 1763, tendo seu filho, o desembargador João Fernandes de Oliveira, completado o período do contrato.
O desembargador João Fernandes de Oliveira, dono de enorme fortuna, verdadeiro soberano, mandava e desmandava no Tijuco, sendo dominado apenas por sua mulher mulata, antiga escrava, Francisca da Silva, a famosa Chica da Silva, a qual teve grande importância na vida do contratador, que teve com ela 12 filhos.
Ela era filha do português Antônio Caetano de Sá e da escrava Maria da Costa. Foi comprada por João Fernandes ao seu antigo senhor, Manuel Pires Sardinha, pai do primeiro filho de Chica, Simão Pires Sardinha.
Chica da Silva faleceu em sua casa no Arraial do Tejuco em 1796. Bem antes dela, em 1779, em Portugal, falecera seu grande amor, João Fernandes de Oliveira (v. Júnia Furtado, Chica da Silva e o Contratador dos Diamantes – O Outro Lado do Mito, Companhia das Letras, São Paulo, 2003).
Terminado o último contrato, em 31 de dezembro de 1771, a extração dos diamantes, a contar de 1º de janeiro de 1772, passou a ser feita por conta da Fazenda Real.
Para este fim, por decreto de 12 de junho de 1771, foi estabelecida em Lisboa uma diretoria composta de três membros, sob da inspeção geral do real erário, à qual competia nomear no Tijuco três caixas administradores, com as graduações de primeiro, segundo e terceiro, que lhe ficaram então sujeitos. Os três caixas, com o Intendente, formavam a junta administrativa, que teve o nome de Real Extração. Para o governo da nova administração foi organizado o Regimento Diamantino, do qual foi remetida uma cópia ao então intendente Francisco José Pinto de Mendonça, encadernado com capa verde, pelo que tomou o nome de Livro da Capa Verde, título que aterrorizava os moradores, pois conferia ao intendente um amplo poder discricionário, partilhado pelo fiscal (nomeado pelo rei), caixa e outros empregados da administração. Era fiscal, na ocasião, Bento Joaquim de Siqueira Henrique de Ayalla.
Em outubro de 1772, faleceu o intendente Francisco José Pinto de Mendonça, sendo nomeado interinamente para o lugar Francisco de Souza Guerra e Araújo, e em 1773 foi nomeado intendente o desembargador João da Rocha Dantas e Mendonça e fiscal o Sr. José Januário de Carvalho.
Em 1782, foi chamado a Lisboa o intendente João da Rocha Dantas de Mendonça, nomeado intendente o Dr. José Antônio de Meireles e fiscal o Dr. Antônio Barroso Pereira. O intendente Meireles foi conhecido como Cabeça de Ferro pela obstinação de seu caráter e gênio colérico. Praticou várias atrocidades com os tijuquenses.
Em 1786, Antônio Barroso Ferreira sucedeu a José Antônio Meireles na intendência dos diamantes, e foi nomeado fiscal o Dr. Luiz Beltrão de Almeida Gouveia.
Em 1789, o fiscal Luiz Beltrão de Gouveia foi elevado a intendente e foi nomeado fiscal o Dr. João Inácio do Amaral Silveira.
Em 1795, foi nomeado intendente o Dr. João Inácio do Amaral Silveira e fiscal o dr. João da Cunha Souto-Maior.
Em dezembro de 1807, tomou posse o intendente Manuel Ferreira da Câmara Bitencourt Aguiar e Sá, primeiro intendente brasileiro, nascido em Minas Gerais, na freguesia de Santo Antônio de Itacambira, comarca de Minas Novas de Araçuaí, bacharelado em Filosofia e Leis pela Universidade de Coimbra, condiscípulo de José Bonifácio de Andrada e Silva, José Álvares Maciel, José da Silva Lisboa e outros, tendo se formado em 27 de junho de 1788, recebendo Cartas de Bacharel, Atos e Graus de Leis. Depois estudou Química e Mineralogia em Paris, com aperfeiçoamentos na Alemanha, Rússia, Suécia, Noruega, Escócia e País de Gales, passando dali para a Espanha e voltando a Portugal (vd. Revista do Arquivo Público Mineiro, ano XIV,1909, p. 629/787, Memórias do Districto Diamantino).
Auguste Saint Hilaire, em sua obra Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil (Liv. Itatiaia Editora, ed., 1974, p. 14-15), sobre o intendente do Distrito dos Diamantes (que à época era o intendente Câmara), escreve: ”O principal administrador do Distrito é o intendente dos Diamantes, que reúne a esse título o de Intendente Geral das Minas. […] O poder do intendente é quase absoluto. Ele regulamenta à vontade tudo o que concerne ao trabalho das minas de diamantes, dispõe da força militar, etc. […] O intendente é ao mesmo tempo administrador e juiz, […] pode pronunciar sentenças, sem audiência e sem apelação”.
Câmara governou o Tijuco por cerca de 15 anos, até 1823, indo, então, tomar assento na Assembleia Constituinte.
Ainda sobre o Arraial do Tijuco àquela época, assim falou o autor supramencionado: “Em toda a província de Minas encontrei homens de costumes delicados, cheios de afabilidade e hospitaleiros; os habitantes do Tijuco não possuem tais qualidades em menor grau, e, nas primeiras classes da sociedade elas são ainda acrescidas de uma polidez sem afetação e pelas qualidades de sociabilidade. Encontrei nesta localidade mais instrução que em todo o resto do Brasil, mais gosto pela literatura e um desejo mais vivo de se instruir”.
E veio o naturalista inglês George Gardner, que visitou o Tijuco à mesma ocasião, e deixou registrado o seguinte: “O clima temperado desta região torna mais sadios seus habitantes em comparação com os sertanejos. As mulheres são as mais belas que já vi no Brasil e os homens de mais fina raça que os das regiões baixas, mais parecendo europeus do que habitantes de um clima tropical” (George Gardner, Viagens ao Brasil, tradução de Albertino Pinheiro, Biblioteca Pedagógica Brasileira).
Veio também a Diamantina, na mesma época, Richard Francis Burton, que deixou o seguinte testemunho: “Os três dias que passei em Diamantina deixaram-me a melhor impressão possível. Os homens são francos, as mulheres, as mais belas e gentis dentre as que tive a ventura de conhecer no Brasil. Seus colos estavam resplandecentes de diamantes…” (vd. Explorations of the Highlands of Brazil).
Esteve, ainda, em Diamantina no século XIX o zoologista, botânico e geólogo Karl Fiedrich Philip Von Martius, enviado pela Real Academia de Ciências da Baviera, e sobre a região dos diamantes escreveu o seguinte: “Quase parece que a natureza escolheu para a região originária dessas pedras preciosas os mais esplêndidos campos e os guarneceu com as mais lindas flores. Tudo que havíamos visto de mais belo e soberbo em paisagem, parecia incomparavelmente inferior diante do encanto que se oferecia aos nossos olhos admirados. Todo o distrito diamantino assemelha-se a um jardim artificial, em cujas colinas e vales alternam-se as cenas românticas dos Alpes com os quadros de uma natureza em idílios”. (Viagem pelo Brasil, tradução de Lúcia Furquim Lahmeyer, 2o vol., Imprensa Nacional, 1938).
Por decreto do rei D. João VI, em 1819, Tijuco foi separado da paróquia de Vila do Príncipe e se tornou a sede de uma nova paróquia, pertencente ao bispado de Mariana, e em 13 de outubro de 1831 passou a se chamar Diamantina.
O município de Diamantina, que fica ao alto do rio Jequitinhonha, foi constituído dos distritos de Diamantina, Conselheiro Mata, Desembargador Otoni, Extração, São João da Chapada, Guinda, Mendanha, Planalto de Minas, Senador Mourão, Sopa e Inhaí.
A título de curiosidade, registram-se aqui palavras do ilustre Augusto de Lima Júnior: “[…] Apenas é de se notar que a arquitetura apresenta certas diferenciações características mais orientais e arcaicas. O temperamento do homem dessas regiões (de Diamantina), seu aspecto físico, os costumes em vigor até bem pouco tempo, herdados dos antepassados povoadores, indicam influência preponderante do sangue semita, afluído de modo excepcional, não só de Portugal como de outros pontos do Brasil, atraído pela eterna sedução do ouro e das pedrarias. Os registros de nomes demonstram uma concentração de judeus ou cristãos-novos nessa região proporcionalmente entre as mais densas do mundo”.
No Serro, tem-se a descoberta do ouro como datada do século XVII. A localidade teve denominações como: Sítio de Santo Antônio do Bom Retiro, Arraial das Lavras Velhas do Serro Frio, Ribeirão de Nossa Senhora da Purificação. O Arraial do Serro Frio foi anexado ao distrito de Itacambira em 15 de março de 1702 (vd. Salomão de Vasconcelos, Bandeirismo, Biblioteca Mineira de Cultura, Belo Horizonte, 1944, p. 89).
O termo Serro do Frio seria uma simples tradução do nome de “Iviturui” dado pelos índios à região em que está situada Vila do Príncipe (ivitu = vento, rui = frio). O ouvidor (magistrado) ali residia e os funcionários do governo também. Era, em 1816, sede da paróquia que tinha trinta léguas de comprimento, onze sucursais e uma população de cerca de trinta mil pessoas, estando aí incluída a do Tijuco. A população compunha-se de 3.228 brancos, 14 índios, 7.964 mulatos livres, 1.599 mulatos escravos, 4.296 negros livres e 11.558 negros escravos (vd. mesma fonte supra).
A comarca de Serro Frio era limitada ao norte pela província da Bahia, a leste pela de Porto Seguro, ao sul pela comarca de Vila Rica e a oeste pelo rio São Francisco que a separa da comarca de Paracatu.
Segundo Spix e Martius, Villa do Príncipe fica a 3.200 pés de altitude em relação ao nível do mar. Auguste Saint Hilaire (obra citada, p. 145 e seguintes) afirmou que, em 1816, chegou a ver pepita de ouro ali extraída que pesava 90 oitavas (324 gramas). Outras, segundo ele, já haviam sido extraídas com peso de até 720 gramas.
De São Sebastião das Correntes a Sabinópolis
O Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais, de Waldemar de Almeida Barbosa (pag. 292, Ed. Itatiaia Ltda, Belo Horizonte/MG, 1995), sobre Sabinópolis, informa o seguinte:
Sabinópolis é município da zona do vale do rio Doce, constituído de três distritos: Sabinópolis, Euxenita e Quilombo. A denominação primitiva de Sabinópolis foi São Sebastião das Correntes. O curato foi elevado a paróquia pela lei n. 184, de 03 de abril de 1840. Foi instituída canonicamente em 30 de junho de 1841. O primeiro vigário colado foi Pe. Narciso Xavier Alves Tinoco. Suprimida a paróquia, foi restaurada pela lei n. 228, de 12 de março de 1846. Em 1868 foi novamente suprimida, com a transferência da sede para a capela de Santo Antônio do Itambé (lei n. 1480, de 09 de julho de 1868). Foi novamente restaurada com a lei n. 1691, de 03 de outubro de 1870. Essa lei determinou:
“A capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens de São Sebastião das Correntes, município do Serro, é elevada a paróquia”. A lei n. 843, de 07 de setembro de 1923, criou o município e determinou a mudança da denominação de São Sebastião das Correntes para Sabinópolis.
A denominação de Sabinópolis deu-se em homenagem ao dr. Sabino Barroso, ilustre filho do lugar, que estudou no Colégio Caraça, foi constituinte em 1891, presidente da Câmara dos Deputados, ministro da República (da Fazenda e da Justiça) e senador estadual em 1899.
Sabinópolis limita-se com os municípios de Guanhães, Senhora do Porto, Dom Joaquim, Serro, Materlândia e Paulistas.
O antigo arraial de São Sebastião das Correntes, segundo dados obtidos na biblioteca local, surgiu de um terreno doado em 1805 por Joaquim José de Gouveia e sua mulher, Francisca Vitória de Almeida e Castro, para quem ali quisesse construir sua casa. Na área doada foi construída em 1808 a igreja de São Sebastião. O nome São Sebastião das Correntes deve-se ao padroeiro São Sebastião e ao ribeirão Correntes, que banha o lugar.
Próximas ao templo, foram surgindo casas dos primeiros moradores. Entre eles, o português Joaquim Barroso Álvares, casado com Maria Fernandes, filha do também português Manoel Antônio Fernandes, com a qual teve os filhos Carlota, Mariana, Eduardo, Joaquim, Marciliana e Afonso.
Segundo Sebastião Pimenta Barroso, no livro Sabino Barroso, um estadista das Gerais, fl.35, Ed. Rona, 1997, o alferes Antônio de Araújo Abreu foi também um dos primitivos habitantes do local. “Era um dos dezessete filhos de Sebastião de Araújo Abreu [e de sua mulher Ana Cândida da Costa, portanto, irmão de Quitéria Jesuína de Araújo, esposa do alferes Bernardino José de Pinho Tavares], residente no arraial do Tejuco, onde era comerciante altamente conceituado, tendo ocupado o cargo de Guarda-Mor. [….] Em uma das nascentes do rio Turvo, afluente do Suassui Grande, no atual distrito de Euxenita, hoje município do Sabinópolis, comprou as fazendas de São Bartolomeu e Bom Jardim e outros imóveis na região. […] Era o fazendeiro mais abastado de São Sebastião das Correntes. [….] O seu irmão, Padre Bento de Araújo Abreu, foi designado em 1822 para capelão da igreja, onde permaneceu até 1824”.
O Pe. Bento era irmão de Marcos Antônio Araújo Abreu, visconde de Itajubá, formado em direito pela Universidade de Coimbra, Portugal, já mencionado anteriormente.
Do mesmo livro de Sebastião Pimenta Barroso, da mesma página 35, extraem-se os nomes dos demais primeiros habitantes de São Sebastião das Correntes, que se destacaram por sua influência na região, quais são: “Antônio Borges Monteiro, mestre Urbano Taveira de Queiroga, Capitão Semeão Vaz Mourão, alferes Antônio Fernandes Barbosa, Manoel Costa Vila Real, José Antônio de Aguiar, Manoel Antônio dos Santos Carvalhais, José Fernandes do Amaral, João Fernandes do Amaral, Malaquias Pereira do Amaral, Manoel Coelho de Almeida, Capitão Antônio José Campos, João Pereira do Amaral, Francisco e Clemente José dos Santos”.
Com a emancipação política de Sabinópolis, em 1931 foi eleito prefeito municipal o major José Cândido de Pinho Tavares, que permaneceu até a eleição de Sebastião de Araújo Abreu.
Mozart Bicalho, com participação de Morel Maria de Pinho, homenagearam Sabinópolis com os seguintes versos:
“Tiveste Sabino Barroso
E outros nobres Varões
Em seu passado ditoso
A dar-te consagrações.
Tu tens e perenemente
Terás amor e guarida
No peito e n’alma da gente
Ó Sabinópolis querida.
O oloroso Correntes
Banha tua gleba ubertosa
E mostra as cores viventes
Dos arrebóis cor-de-rosa.
Teu povo a “Ave Maria”
Com fervor no coração
Entoa a cada dia
Preces a São Sebastião.”
Morel Maria de Pinho foi grande poeta, compositor, músico e orador, entre outras virtudes. Nasceu na fazenda das Moças, no município de Mãe dos Homens, hoje Materlândia, filho de Alfredo de Pinho Tavares e Virgínia Taveira de Pinho.
O advogado Dr. Antônio Azer de Pinho Tavares, que muito bem administrou a cidade quando ali foi prefeito, é hoje o patrono do prédio do Fórum local.
O Hospital de Sabinópolis começou quando Joaquim de Pinho Tavares Neto era ainda acadêmico de medicina, depois grande médico. Em 1948 formava-se o Dr. Joaquim de Pinho Tavares Neto, filho da terra, que logo após sua formatura foi trabalhar em Sabinópolis, o qual veio a ser agraciado em 1983 com a medalha de honra ao mérito e o título de membro correspondente da Academia Mineira de Medicina, honraria dada aos médicos que mais se destacaram na profissão.
Na gestão do prefeito Etelvou de Pinho Tavares, Sabinópolis recebeu uma unidade sanitária do SESP, a qual teve como primeiro diretor o Dr. Joaquim de Pinho Tavares. Na mesma gestão foi criada uma escola de segundo grau, com o curso técnico de contabilidade e o curso de formação para o magistério. Ainda nessa mesma época, foi criada, por Monsenhor José Amantino, a Sociedade Ginásio Monsenhor José Amantino dos Santos, entidade filantrópica destinada a manter em Sabinópolis um estabelecimento de ensino de nível médio. Surgiu, então, o ginásio do qual o Monsenhor Amantino foi o primeiro diretor e lhe empresta o nome.
O primeiro presidente da Câmara foi o farmacêutico Inácio Alves Barroso, que ocupou o cargo até 24 de outubro de 1930, o qual foi nomeado prefeito do município até 28 de novembro de 1931, tendo sido seu sucessor o major José Cândido de Pinho Tavares, cujo mandato se estendeu até 18 de abril de 1936. Funcionaram como agentes executivos os vice-presidentes da Câmara o major Elpídio de Pinho Tavares e o major José Cândido de Pinho Tavares, bem assim como prefeito interino, durante dois anos e meses, o Sr. Antônio Azer de Pinho Tavares.
Além dos citados supra, Sabinópolis teve os seguintes prefeitos: Ignácio Alves Barroso, Antônio Azer de Pinho Tavares, Elpídio de Pinho Tavares, José Cândido de Pinho Tavares, Remy Pires Campos, Sebastião de Araújo Abreu, Ismael Barroso, José Coelho de Pinho, Joselino Lages de Oliveira, Luís da Fonseca Vilares, Nélson Figueiredo Barroso, Sebastião Fernandes Mourão, Osvaldo Magela Mourão, Celso Generoso Pereira, Dr. Joaquim de Pinho Tavares Neto, Olegário Mourão, Etelvou de Pinho Tavares, Paulo Afonso Caldeira Mourão, Paulo de Pinho Tavares, Cleber de Pinho Tavares, Francisco de Assis Mafra, Andrelino Ferreira do Nascimento, Alenir de Pinho Tavares, Adélio Barroso Magalhães, Paulo Jorge Pimenta, Múcio Barroso Campos, Elzio Maria de Pinho e Geraldo Santos Pires.
Por ali passaram, como juízes togados, os Drs. Afrânio Palhares Ribeiro, José Gomes da Cunha, Antônio Spínola de França (tio do Dr. Antenor Navarro, antigo interventor federal da Paraíba).
O primeiro ocupante do Cartório do 1º Ofício e Registro de Imóveis foi Joaquim Araújo Abreu; do 2º Oficio, José Alves Sampaio; escrivão do Crime, Osvaldo de Pinho Tavares; escrivão de Paz e oficial do Registro Civil, José Cristiano de Queiroz Nunes; contador, partidor e distribuidor, Zelita Queiroz Barroso.
Alguns dados acima apresentados foram extraídos de um levantamento feito por Cristóvão Colombo Rocha, com informações obtidas do agente de estatística José Maria de Pinho, encontrados na Biblioteca Pública de Sabinópolis.
Euxenita é distrito do município de Sabinópolis. A localidade chamava-se Patrimônio e foi elevada a distrito pela lei n. 843, de 07 de setembro de 1923, que lhe deu a atual denominação.
Quilombo é também distrito do município de Sabinópolis, criado pela mesma lei mencionada supra, com território desmembrado do distrito de Santo Antônio do Rio do Peixe, município do Serro, e anexado ao de Sabinópolis.
De Mãe dos Homens a Materlândia: minha doce Pátria-Mãe
Materlândia, antiga cidade de Mãe dos Homens do Turvo, foi criada pela lei n. 2764, de 30 de dezembro de 1962, com o território desmembrado do de Rio Vermelho. O distrito, com a denominação de Nossa Senhora Mãe dos Homens do Turvo, foi criado pela lei n. 334, de 1847, no município do Serro. Com a lei n. 1691, de 1870, o distrito foi elevado a freguesia. Em 1938, ao ser criado o município de Rio Vermelho, com o decreto-lei n. 148, o distrito de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi transferido para o novo município, quando teve sua denominação reduzida para Mãe dos Homens. Em 1962, a lei que criou o município mudou-lhe a denominação para Materlândia.
Mãe dos Homens do Turvo, onde morou e se casou meu avô Francisco de Pinho Tavares (Inhô), onde nasceram todos os seus filhos, onde também, por muitos anos, residiu meu pai, Geraldo de Pinho Tavares, e onde nasceram sete dos seus oito filhos, entre os quais tenho a honra de me incluir, está situada na microrregião da bacia do Suassuí, no centro-nordeste mineiro. Ocupa extensão territorial de 253 km², limita-se ao norte com o município de Rio Vermelho, ao sul com Sabinópolis, ao leste com Serra Azul de Minas, Santo Antônio do Itambé e Serro e a oeste com Paulistas. É banhado pelos rios Turvo e Turvo Grande.
Embora não seja oficial, tem-se como certo que o casal Basílio de Almeida e sua mulher Amália Ernestina de Almeida, originários da Bahia, ali possuíam grande fazenda. Com a morte do marido, a viúva, sem filhos, doou suas terras a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Conta-se que o Irmão Lourenço, do Colégio Caraça em Santa Bárbara/MG, quando peregrinava na região pregando a fé em Nossa Senhora Mãe dos Homens, fez doação da imagem à capela local. Em torno da capela foram se construindo casas que deram origem ao povoado de Mãe dos Homens, o qual se tornou o distrito de Mãe dos Homens do Turvo, pertencente ao município e comarca do Serro. Após a emancipação de Rio Vermelho em 1938, Mãe dos Homens passou a pertencer a esse município, mas em 10/12/1962 ocorreu a emancipação do distrito, que se tornou cidade com o nome de Materlândia, nome de formação híbrida latino-germânica, que significa terra-mãe (mater = mãe e land = terra) e assim pretende preservar e traduzir em parte o sentido do topônimo original.
Portanto, Materlândia simboliza a terra da Virgem Maria, Mãe de todos os homens. À ocasião, o Dr. José de Magalhães Pinto governava o Estado. A instalação da cidade se deu em primeiro de março de 1963, sendo a data, por isso, feriado municipal.
Morel Maria de Pinho Tavares compôs o Hino de Materlândia:
“Os fulgores de esplêndida aurora
Vêm noss’alma de luz inundar;
Nossos hinos cantemos agora
Que os troféus conseguimos buscar!
Materlândia, no império da luta
Em que a glória de um povo se faz
Há de alçar a bandeira impoluta
No consórcio do amor e da paz!
Nosso brado foi nobre e seguro
E outro rumo nos manda traçar;
Palmilhando mais amplo futuro
Que outras messes nos venha legar!
Pois, havemos de, unidos, marchar
Para um róseo e fecundo porvir
E o estandarte da crença elevar
Qual emblema de amor a sorrir!
Nós, os filhos de plagas agrestes
Nesse eterno recanto de Minas
Só pedimos as graças celestes
Sob as luzes de bênçãos divinas!
Eia, avante, turvenses briosos
Trabalhemos com ardor e ufania
E seremos, assim, venturosos
Sob o olhar protetor de Maria!
Na conquista da paz verdadeira,
Caminhemos à sombra da Cruz,
Onde o peito é muralha altaneira
Onde a fronte é grinalda de luz.”
(vd. Versos, Orações e Cantos, Um Memorial, de Morel Maria de Pinho, 1ª Edição – Ed. Rona, Belo Horizonte/MG, 1996, p.139. Autorização verbal para publicação do hino concedida pelo Dr. Jairo Maria de Pinho Tavares, filho de Morel Maria de Pinho, que também autorizou a publicação dos versos de fls. 54/55.)
A poesia a seguir, feita em homenagem a Materlândia, é de autoria da professora aposentada Maria Helena Oliveira, que gentilmente me ofereceu uma cópia e verbalmente me autorizou sua transcrição:
“Materlândia, tu és muito pequena, és quase nada,
Tua história não se reveste de brilhos,
É imensa, porém, tua glória,
Nos sentimentos de civismo de teus filhos.
Quero ver-te conhecida,
Ver-te amada em tuas tradições,
Materlândia dos nossos antepassados,
Relicário de nossas recordações.
Quero muito a teu povo,
Teu lavrador, teu carreiro,
Gente simples, gente forte,
A essência do espírito mineiro.
Eu venero o teu passado,
Tua história e tuas lendas,
Materlândia do rio Turvo,
Terra das belas fazendas.
Tuas casas centenárias,
Só nos falam de amor,
De ternura, de saudade,
E das bênçãos do Senhor.
É nosso grande tesouro a tua Igreja Católica,
A casa da mãe da bondade,
A quem aprendemos a amar,
Pelas lições do Padre Teófilo Vieira de Andrade.
Com o fervor de su’alma sacerdotal
De tua paróquia dirigiu o destino,
O inesquecível, alegre e intelectual,
Monsenhor José Amantino.
Pairam sob o azul do teu céu,
As lembranças de fé e devoção,
Do teu virtuoso vigário,
Padre Geraldo Anadir Brandão.
Hoje contigo cantamos de Deus as glórias,
De Maria santíssima exaltamos os encantos,
Pelas lições evangélicas do teu vigário,
Monsenhor José Batista dos Santos.
É consolador avaliar,
O teu progresso nos meios de comunicação,
Na área de valor inestimável da saúde,
Tens verdadeiros apóstolos, símbolos de dedicação.
A tua escola Estadual, tuas Escolas Municipais,
como é sublime relembrar,
Estas cordas mais sensíveis do coração,
Onde os teus filhos vão buscar,
Deus, Família, Pátria e instrução.
Celebrando a tua vida presente,
Muitas vezes choramos os teus dias que se passaram,
Lembrando aqueles, que hoje, na eternidade,
Um dia aqui na terra tanto e tanto te amaram.
Estamos porém, unidos pelas verdades da fé,
E assim cantaremos nossas rimas de louvor,
À nossa humilde e imensa Materlândia,
A terra da Virgem Maria, a terra da Mãe do Senhor”.
Eu, Maria dos Anjos de Pinho Tavares, autora desta pesquisa, nasci em Materlândia (antiga Mãe dos Homens), em 1945, e aos quatro anos de idade mudei-me com meus pais e irmãos para o município de São João Evangelista, onde meu pai havia adquirido umas terras, num lindo local banhado pelo rio São Nicolau Pequeno.
São João Evangelista, cidade situada no nordeste de Minas, em seus primórdios era conhecida pela denominação de Mata do Peçanha. Pertenceu ao termo forense do município de Santo Antônio do Peçanha, comarca de Guanhães.
A freguesia foi criada pela lei provincial n. 2.654, de 04 de novembro de 1880, com o nome de São João do Suassuhy, e teve demarcados seus limites pela lei provincial n.2.775, de 19 de setembro de 1881, quando o Governo de Minas encontrava-se às mãos do senador João Florentino Meira de Vasconcellos.
Antes de sua elevação a freguesia de paz, no regime provincial (1880), o lugar era conhecido pelo povo dos arredores como Arraial de S. João de Lifonso, corruptela de Ildefonso, nome do português capitão Ildefonso da Rocha Freitas, proprietário da fazenda São João e engenho de serra, à margem direita do córrego São João e em cujas terras se principiou o povoado. Faleceu em 1873. Chamou-se, também, São João Novo. A lei provincial n. 2.995, de 19 de outubro de 1882, em seu art. 3º, modificou-lhe o nome para São João Evangelista.
Em 1874, os herdeiros do capitão Ildefonso, cumprindo determinação testamentária, doaram um terreno de dois alqueires à igreja de Nossa Senhora do Rosário, para quem ali quisesse construir sua morada, local onde veio a se formar o povoado, ao qual deram o nome de São João.
A criação canônica da freguesia data de 31 de julho de 1882, por ato do bispo de Diamantina, D. João Antônio dos Santos. Em 15 de agosto do mesmo ano tomou posse o primeiro vigário, padre Joaquim Antônio dos Santos Lacerda, natural de Cocais, falecido em 1895, com 39 anos. Havia estudado no Colégio Caraça e recebido ordens sacras em Diamantina. Em 1893, tomou posse como vigário o monsenhor Antônio Pinheiro de Souza Brandão, filho do Serro, ordenado em Diamantina, que foi também inspetor escolar do distrito(vd. Revista do Arquivo Público Mineiro, n. XIII, ano 1908).
A primeira pessoa civilizada que se fixou com sua família no território onde se formaria depois o povoado de São João foi o fazendeiro Alferes Machado, que ali construiu uma fazenda em 1817, onde se hospedou o escritor e cientista frances Auguste de Saint-Hilaire, o qual permaneceu em viagens pelo Brasil no período de 1816 a 1822, que assim deixou registrado:
“A fazenda em que pernoitei no dia em que saí de Cana Brava, tem o nome de Aldeia de São Nicolau, porque, efetivamente, ainda há poucos anos, havia nesse local um aldeamento de índios. Cerca de duzentos indivíduos já civilizados da nação dos Monoxós tinham vindo de Cuyaté estabelecer-se nesses bosques… [… os quais] após quatro anos retiraram-se para Passanha, para se unirem aos Malalis, na guerra contra os botocudos. O proprietário da fazenda que tomou o lugar do rancho dos Monoxós, comprou o terreno que abarca mais de meia légua; construiu uma choupana para ele e sua família, e acrescentou algumas construções de exploração.
Tanto quanto ia para Passanha, como ao voltar dessa povoação, fui recebido na Aldeia de São Nicolau, com a mais acolhedora hospitalidade. A esposa do proprietário, o alferes Machado, não fugiu ao me avistar, e, no entanto, era branca. Nessa casa todos estavam em atividade, espetáculo de que raramente goza viajante que percorre o Brasil. A senhora Machado cosia; algumas de suas filhas fiavam o algodão, e outras faziam renda.” (v. Viagem pelas Provincias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Auguste de Saint-Hilaire, tradução de Vivaldi Moreira, Belo Horizonte, Editora Itatiaia; São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 1975, p.170).
Os primeiros habitantes da região da Mata do Peçanha, da aldeia de São Nicolau, foram:
Ildefonso da Rocha Freitas, nascido em Portugal, e sua mulher, dona Maria Coelho da Silveira, ali chegaram já com o primeiro filho, Manoel Coelho da Rocha. Acredita-se que a chegada do Capitão Ildefonso e família ocorreu em 1835.
O genro do capitão Ildefonso, Sr. Manoel Neto da Silva, casado com Maria Cândida de Jesus, fixou-se em local próximo ao seu sogro, e construiu sua fazenda, Bom Jardim, a qual veio a ser posteriormente adquirida de seus descendentes por Cornélio José Pimenta, que mudou seu nome para fazenda das Cassuarinas.
O irmão do capitão Ildefonso, Sr. Martinho da Rocha Freitas, casado com Angélica Coelho da Silveira, e o outro irmão, Antônio da Rocha Freitas, casado com Maria Rosa de Jesus, chegados à região na mesma época, fixaram-se nas nascentes do rio São Nicolau Pequeno, próxima à aldeia.
Outras pessoas ali viveram ao mesmo tempo do capitão Ildefonso, os quais, acredita-se, sejam seus familiares, como:
Gonçalo de Almeida Costa, Antônio Nogueira Madureira, Paulino José Sardinha, Antônio Coelho Linhares, Nicolau José de Oliveira, João Batista Dias, José Tomaz da Silva, Sebastião Tomaz da Silva, Francisco Quirino da Silva, Modesto de Souza Chaves, Manoel José Souto, Miguel Inácio Peixoto, Francisco Demétrio de Paula, Antônio Pedro Gonçalves, Zeferino Monteiro de Carvalho, Antônio Luiz Carneiro (Novato), Manoel Rodrigues dos Santos, Francisco Pereira Afonso, Germano José de Oliveira, Tomaz Antônio de Aquino, Francisco Rodrigues Ascencio, João Gualberto Gonçalves, José Pedro Gonçalves e Antônio Pedro Gonçalves Filho (v. A Mata do Peçanha, sua história e sua gente, Demerval José Pimenta, Belo Horizonte, 1966, p. 79/96).
Encontrei, na região de São João Evangelista, registro das seguintes pessoas da família Pinho Tavares, das quais desconheço a descendência:
1 – João de Pinho, nascido em 29/04/1895, casado com Hilda Augusta Pimenta de Pinho, pais de:
1.1) José Maria de Pinho(06/03/1918) casado com Amélia Chaves;
2 – Milton Agostinho de Pinho, nascido em 28/08/1920, casado com Altamira Geralda de Carvalho;
3 – Maria das Dores de Pinho, nascida em 16/10/1923, casada com Ismar Borges de Medeiros;
4 – Geraldo de Pinho, nascido em 20/08/1925, casado com Helena Pires de Pinho;
5 – Terezinha de Pinho Barroso, nascida em 26/04/1929, casada com José Barroso de Oliveira Filho;
6 – Alipio de Pinho, nascido em 15/02/1931, casado com Maria Geralda de Pinho;
7 – Maria do Carmo de Pinho, nascida em 07/06/1932, casada com Nivaldo Augusto de Carvalho;
8 – Maria José de Pinho, nascida em 02/09/1933, casada com Antônio Barroso de Oliveira;
9 – Ulisses de Pinho Tavares, casado com Tereza Pimenta Tavares;
10 – Antônio de Pinho Tavares, casado com Olinda Pimenta de Pinho.
Uma vítima do caciquismo e do abuso de autoridade
Antes da chegada do alferes Bernardino ao Brasil, veio de Portugal, em 1759, o seu tio, padre João de Pinho Tavares, que era filho legítimo de Manoel Tavares e Luísa João, ambos da Freguesia de Santa Cruz de Alvarenga, Bispado de Lamego, Portugal. Seus avós paternos foram Manoel Tavares e Catarina de Pinho e, maternos, Manoel João, da mesma freguesia de Santa Cruz de Alvarenga, e Maria Rodrigues, da freguesia de São Miguel de Canelas, do mesmo Bispado de Lamego (dados obtidos nos arquivos da Cúria Metropolitana de Mariana, pasta 889, título: “De Genere et Moribus”).
O padre João de Pinho Tavares estudou na Universidade de Coimbra, tendo se matriculado no curso de Instituta (hoje Direito Civil) em 01 de outubro de 1756, e, em 01 de outubro de 1757, matriculou-se no curso de Cânones (hoje, Direito Canônico), no qual se formou. Esses dados foram obtidos nos arquivos da dita Universidade, onde existem livros de matrículas dos alunos, desde longa data. Fato curioso é que a matrícula era assinada três vezes pelo estudante, o que hoje é feito em estabelecimentos bancários.
Sabendo-se que o Pe. João de Pinho Tavares nasceu no ano de 1728, constata-se que ele ingressou nos estudos universitários com a idade de 28 anos.
O Padre João, no Brasil, residiu no Arraial do Tijuco de Villa do Príncipe, comarca de Serro do Frio, em casa própria, à Rua da Cavalhada Nova, que na ocasião, em 1775, tinha apenas cinco moradores. Era vice-comissário da Ordem Terceira de São Francisco. Teve grande atuação como clérigo no local, tendo sido uma pessoa muito querida dos habitantes do arraial, vindo a falecer já bem velhinho, em decorrência do desgosto e humilhação sofridos em 1799 do intendente dos diamantes do arraial do Tijuco, Sr. João Ignácio do Amaral Silveira e do fiscal, João da Cunha Soutto Maior.
O episódio ocorrido entre o padre e o intendente consta do requerimento do povo da demarcação Diamantina remetido à rainha de Portugual, D. Maria I, em 1799, pedindo providências contra os ditos intendente e fiscal, nos seguintes termos, com adaptação ortográfica moderna:
“O Padre João de Pinho Tavares tinha um hóspede em sua casa, de quem o intendente queria haver um escravo para prisão, e que teve a habilidade de a evitar fugindo. O intendente, incendido por lhe escapar este escravo, mandou vir a sua presença, conduzidos por dois pedestres, tanto o padre como o seu hóspede, Sr. José Freire, e a este, por fim, lhe intimou sua sentença de se recolher à cadeia, e dali não sair sem que primeiro não aparecesse o dito escravo. Então o padre, venerável por sua longa idade e brancas cãs, venerável pela santidade de seu estado, venerável pelos seus puros costumes, e como tal do povo, reverenciado, se abaixava, e procurava abraçar-se com os joelhos dele intendente e lhe suplicava que por quem era, não lhe desse tão acerba dor, como de lhe prender o seu amigo e o seu hóspede, ou quando não que também o mandasse para a mesma prisão. Pedestres, foram as palavras do intendente, levem o hóspede deste clérigo à cadeia, e se lá ele também for, digam ao carcereiro que também o segurem. O aflito sacerdote se recolheu em soluços que se lhes arrancavam d’alma, e encerrou-se em sua casa, viveu sempre triste e magoado, e disto em breve se lhe azou a morte”. (vd. Revista do Arquivo Público Mineiro, fascículo 1º, janeiro a março de 1897, Imprensa Oficial de Minas Gerais, p. 148).
Um segundo requerimento do povo de Diamantina enviado à Rainha de Portugal, logo após o anterior, contém, no ítem 19, o seguinte:
“Que mandando o dito ministro a casa do Pe. João de Pinho Tavares, sacerdote respeitável pela sua idade de virtude, a prender um seu escravo, e havendo este prevenido a prisão com a fuga, enfurecido o intendente mandou conduzir a sua presença o dito padre e um José Freire, seu familiar, fuzilando de ira contra ambos, ordenou que este último fosse para a cadeia até aparecer o escravo fugido. Orou o padre por ele, dizendo que nem um nem outro tinham culpa alguma neste caso e que antes ele queria ir para a cadeia que o seu familiar inocente.
A resposta foi logo a do costumado furor, destampatório e descomedido, dizendo-lhe aos gritos, que não fazia caso de clérigos, nem de frades, nem de igrejas, nem de capelas, com que o dito padre saiu apaixonado e sentidíssimo”. (vd. Revista do Arquivo Público Mineiro, fascículo 1º, janeiro a março de 1897, Imprensa Oficial de Minas Gerais, p. 167).
Joaquim Felício dos Santos, em seu livro Memórias do Distrito Diamantino, 4ª Edição, Livraria Itatiaia Editora, 1976, p. 313, narra o mesmo episódio. Registra-se aqui, por oportuno, que o Guarda-Mor Sebastião de Araújo Abreu, pai de Quitéria de Araújo, mulher de Bernardino de Pinho Tavares, foi contemporâneo, em Diamantina, do padre João de Pinho Tavares, tendo sido testemunha de grandes atrocidades cometidas pelos intendente e fiscal mencionados supra, o que é registrado na carta enviada à rainha de Portugal.
Em pesquisas realizadas no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina, na Caixa 335, foram encontrados vários registros de casamentos realizados pelo padre João de Pinho Tavares, entre eles, o seguinte:
“Em 04/08/1762 o Reverendo João de Pinho Tavares realizou o casamento de Joaquim de Moura, filho de Antônio de Moura Braga e Ana Maria do Nascimento, no arraial do Tijuco”. Foram fotografadas várias assinaturas do referido padre, em registro de atos por ele praticados.
Na mesma carta endereçada à rainha de Portugal pelo povo de Diamantina, consta do seu ítem 82 o nome de outra pessoa da família, qual seja Silvério de Pinho Tavares, o qual teve um escravo que fugiu do hospital em que se encontrava internado, e por isso foi “incriminado o pobre moço e metido em uma enxovia mesmo antes da pronúncia, privado do seu emprego, e expulsos também da administração seus escravos, embora não tendo ele a menor culpa, não lhe sendo aplicáveis as leis de carcereiro, sendo um homem de costumes os mais regulares, que tinha servido com todo louvor nas suas obrigações, e que de mais a mais era arrimo e amparo de sua pobre mãe viúva, irmãs órfãs, e gente de toda honestidade. Este caso foi um escândalo para este arraial, porém o que confirma mais esta horrível injustiça, é ter agravado este inocente réu da injusta pronuncia, ser provido por Sua Majestade no seu agravo, e reconhecido inocente, mas nunca foi restituído ao seu emprego, nem admitidos os seus escravos.” (mesma fonte anteriormente mencionada- item 82).