3 – O sobrenome Pinho


Um topônimo e antropônimo

 

O sobrenome Pinho, acredita-se, seja de origem judaica.

Brasão dos Pinho

Brasão dos Pinho

Segundo Syllas Agostinho Ferreira (“Achegas sobre a presença judaica”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, vol. nº XXIII, Edição Especial, ano 2000, pp. 77-82): “Na Península Ibérica, enquanto o inimigo maior para os reis e populações locais foi o árabe e o mouro, os judeus puderam desfrutar de certa tranquilidade. Criando-se o reino de Portugal, sendo o território ainda pouco povoado, os descendentes de Abraão foram úteis na sua povoação. Portugal sempre fora um ‘cadinho de raças’, desde tempos bem recuados, devido à sua posição geográfica, na ‘esquina da Europa’, como dizem alguns autores.

Aí chegaram por mar e por terra fenícios, cartagineses, gregos, romanos, galos, godos, visigodos, vândalos, árabes e judeus.

A influência destes últimos foi tão grande que os nomes e sobrenomes próprios nos vêm em grande parte de bases judaico-cristãs: Braga, Ferreira, Oliveira, Pinho, Pereira, Nogueira, Prado, Pinheiro, Arzan ou Arzão, Chacon, Navarro, Sarmento, Cohen, Funjeca ou Fonseca, Moretzson, Leite, Antunes, Leão, Coelho, Noronha…”.

Na Grande Enciclopédia Brasileira e Portuguesa, consta, sobre a genealogia da família, o seguinte: “Pinho é apelido português antigo, pois da relação que o rei D. Pedro I mandou fazer dos cavaleiros que tinham comedoria no mosteiro de Grijó, se mencionam Gonçalo Anes de Pinho e seu irmão Lourenço Anes de Pinho, moradores na Terra da Feira. Anteriormente, aparecem outras pessoas do mesmo apelido, mas não se sabe o parentesco certo entre umas e outras, nem com o mais antigo de quem se pode deduzir a genealogia.

Este é Pedro Vaz de Pinho que morou na vila da Feira, no século XVI, ou talvez ainda no anterior, e deixou geração que continuou o apelido. O apelido é tirado, conforme parece, de um dos lugares deste nome, existentes na província de Trás-os-Montes e na da Beira. As armas dos Pinhos são as seguintes: de prata, cinco pinheiros de verde, frutados de ouro. Timbre: um dos pinheiros”.

No Dicionário das Famílias Brasileiras, de Almeida Barata e Cunha Bueno, consta o que se segue:

“Pinho – Sobrenome de origem geográfica. De Pinho, subst. comum (Antenor Nascentes, II, 243). O Conde D. Pedro, em seu Nobiliário, à p. 273 (Século XIV), faz menção a João Lourenço de Pinho (Anuário Genealógico Latino, I, 77). Felgueiras Gayo, em seu Nobiliário das Famílias de Portugal, trata da antiguidade desta família, onde informa ser muito antiga. O Livro antigo de Linhagens faz menção a D. Lourenço de Pinho, e diz ter ele uma filha chamada D. Lourença Annes de Pinho e que destes descendem os de Avellar, Brandoins e Malheiros, e alguns entendem que por esta Linha descendem os Pinhos do M. de Aviz D. Martim do Avellar. O certo é que não temos achado notícias destes Pinho mais que dos que abaixo pomos. No Tombo que mandou fazer El Rei Dom Pedro I nas terras do Mosteiro de Grijó, e dos cavaleiros que nele tinham ração, se acham nomeados Gonçalo Annes de Pinho e seu irmão Lourenço Annes de Pinho, moradores da terra da Feira, e se nomeiam no testamento de cavaleiros, e nada mais pudemos descobrir.”

Em seguida, no Nobiliário supramencionado, Felgueiras Gayo trata da genealogia desta família, principiando-a em Pedro Vaz de Pinho, que viveu na terra da Feira:

“No século XV tem-se notícia de Pedro Vaz de Pinho, que viveu na Vila da Feira, o qual teve dois filhos, Vicente e Filipa Gonçalves de Pinho;

Vicente de Pinho foi casado e teve dois filhos: Diogo e Antônia de Pinho;

Filipa de Pinho casou-se com Tristão Vaz de São Payo, com quem teve os filhos: Diogo Vaz de Pinho, Fernão Vaz de Pinho, Matheus Vaz de Pinho, Martim Vaz de Pinho (foi Senhor de um Morgado chamado “a Torre de São Payo” por morte de seu irmão Diogo Vaz de Pinho. Casou-se duas vezes) e Catarina Vaz de Sam Payo (casada com André Homem da Costa, com geração na família dos Homens);

Diogo de Pinho (filho de Vicente de Pinho) casou-se com Ignez Godinho e tiveram os filhos Belchior de Pinho Godinho e Jorge Godinho, que viveu na Índia. Cavaleiro triste, morou em Beçaim e teve a filha Genebra Godinho, casada em Rio Meão com Paschoal de Andrade Freire;

Diogo Vaz de Pinho (filho de Felipa de Pinho) foi chamado ‘o da Mina’, porque foi a ela e voltou muito rico. Casou-se com Brites Aranha, com a qual teve os filhos: João de Pinho, D. Aleixo de Pinho (crúzio), Anita Aranha, casada com João Soares Homem de Albergaria, da Quinta de Fariel, com geração na família dos Albergarias;

João de Pinho (filho de Diogo Vaz de Pinho) herdou a casa de seu pai. Casou-se em Ovar com Maria da Fonseca e tiveram os filhos: Diogo Vaz de Pinho (clérigo), Anita da Fonseca (casada com Lopo de Andrade Freire) e Brites Aranha de Pinho;

Brites Aranha de Pinho (filha de João de Pinho) casou-se com Francisco Botelho Soares (filho de Manoel Pais de Abreu, com quem viveu na cidade do Porto, e tiveram os filhos: Manuel Pais de Pinho (Senhor da casa, casado), João de Pinho (abade de Ezmoriz, por renúncia de seu tio), Mariana da Fonseca (casada com Salvador de Matos Soares, filho de Teodósio de Matos Soares, senhor da Quinta de Rio Meão) e Francisca Botelho de Pinho;

Francisca Botelho de Pinho (filha de Brites Aranha), casou-se com Manuel Pereira de Andrade (filho de Amador Soares de Aguiar e Leonor de Meireles) e tiveram os filhos: Fernando Botelho de Pinho, Joana Maria Pereira (casada com Lopo Soares Albergaria) e Catarina Teresa Pereira;

Belchior de Pinho Godinho (filho de Diogo de Pinho) foi senhor da casa de seu pai. Casou-se com Maria Borges, com a qual teve os filhos: Manuel Godinho Borges (prior de Macieira); Gabriel (sem geração); João (sem geração); Mariana Borges Godinho, casada com Cristóvão Camelo Alcoforado (sem geração); Joana Borges Godinho; Anna Borges Godinho; e Maria Borges;

Anna Borges Godinho (filha de Belchior Godinho) casou-se com Antônio Camelo Alcoforado, da vila de Ovar, com o qual teve os filhos Belchior Camelo Alcoforado e Maria Camelo Borges;

Joana Borges Godinho (filha de Belchior Godinho) casou-se com André Alvarez Pereira, filho de Amador de Aguiar, juiz de órfãos na comarca da Feira, e tiveram os filhos: Amador de Aguiar Soares, Maria Borges, casada na Feira com Pedro Ferreira Leite;

Antônia de Pinho (filha de Vicente de Pinho) casou-se com Duarte Pinto, filho de Gonçalo Vaz Pinto e tiveram os filhos Manuel Pinto, Roque Pinto, Vicente Pinto, Marcos Pinto, Duarte Pinto (prior do Algarve), Gonçalo Pinto (foi para a Índia), Lucas Pinto, que teve os filhos Manuel Lobato e Pascoal Gramaxo;

Fernando Botelho de Pinho (filho de Francisca Botelho de Pinho) foi formado em Universidade. Casou-se com Isabel Pereira de Lacerda, filha de João Cordeiro Pereira, irmão de Manuel Pereira, de alcunha ‘o Galego’ e tiveram os filhos: Francisco Botelho de Pinho (morreu novo), Leopoldo Botelho de Pinho (viveu em 1700), Ângela Botelho de Pinho (morreu nova), Eufrásia Botelho de Pinho e Bernarda Sofia de Pinho, que era chamada Sofia de Leão e se casou com Bernardo Moreira de Vasconcelos, com o qual teve o filho Diogo Moreira de Vasconcelos;

Fernando Vaz de Pinho (filho de Felipa de Pinho) casou-se com Francisca da Costa, filha de Antônio Cerveira e tiveram os filhos Antônio de Pinho da Costa e Maria da Costa de Pinho;

Antônio de Pinho da Costa (filho de Fernando Vaz de Pinho) foi fidalgo da casa real e cavaleiro da Ordem de Cristo. Esteve na Índia e foi vedor da fazenda de Coxim no ano de 1631. Foi casado e teve os filhos Antônio Pinho da Costa e Maria Pinho da Costa;

Mateus Vaz de Pinho (filho de Filipa de Pinho) casou-se com Maria Carvalho e tiveram os filhos João de Pinho e o padre Domingos de S. Dionísio Loio;

João de Pinho (filho de Mateus Vaz de Pinho) foi senhor da casa de seu pai, casou-se com Francisca de Bastos, neta do infante D. Fernando, pai do Rei D. Manoel e irmã de D. Jerônimo Dias de Melo, bispo de Funchal (capital da ilha da Madeira);

Maria da Costa de Pinho (filha de Fernando Vaz de Pinho), casou-se com Tomé Borges e tiveram o filho Aleixo Borges, que foi senhor da casa de seu pai e se casou com sua parenta Joana Borges, filha de André Borges da Costa e Maria Soares;

Aires de Pinho teve o filho Fernão;

Fernão de Pinho (filho de Aires de Pinho) foi fidalgo da casa real e casou-se com Maria de Oliveira, tendo o filho Marcos de Pinho;

Marcos de Pinho (filho de Fernão de Pinho), chamado ‘o Grande’, casou-se com Maria Simões de Carvalho (filha de Simão Ferraz Homem e sua mulher Marta Jorge de Carvalho), com quem teve a filha Margarida de Pinho, casada com Gonçalo Ferraz Viegas, filho de Catarina Ferraz e João Viegas, do local denominado Carvalhais”.

O Pinho “do rio Vouga”

Existem em Portugal alguns lugares chamados Pinho, segundo informação dada pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.21, p. 770-771, entre eles: “Pinho: Freguesia do concelho e comarca de São Pedro do Sul, distrito e diocese de Viseu, relação de Coimbra, orago São João Batista. Dista 2,5 km da sede do concelho e está situada à margem direita do rio Vouga. […] A mais remota notícia desta freguesia remonta aos princípios do século XII. […] Na ‘terra’ de Lafões, vasto distrito de que a paróquia de Pinho foi das mais remotas”. Próximo havia o Mosteiro de São Cristóvão, Santa Cruz, São Pedro do Sul, etc.

Conforme a mesma fonte, “De Pinho parece, para alguns, originária a família nobre deste apelido, que ali teria o seu princípio. De fato, no século XIII, os três lugares que compunham a paróquia, a saber, Moldes, Pinho e Soveral (Sobral), eram todos eles honras. Pinho e Soveral eram ainda inteiramente de fidalgos em 1258. O primeiro ‘de Pinho’ de que temos notícia nessa região é Nuno Peres de Pinho, que as inquirições Dionísias dão por senhor (talvez primeiro) da honra de ‘PIO’ (forma constante da série fonética pinu > pio > Pinho), o qual, como se vê das inquirições Afonsinas, ainda vivia no tempo de D. Sancho II, pois no reinado deste doou ao Mosteiro de Santa Cruz quinze casas que havia comprado em Cambarinho. Também lhe doou casas em Pindelo e por esta e semelhantes doações foi o Mosteiro de Santa Cruz de Lafões (tratar-se-á de Santa Cruz de Coimbra?) opulento de bens por esta região.

Talvez os de Pinho, seus grandes benfeitores, fossem dele naturais. Por esta ocasião, outro nobre, seu contemporâneo, foi, ao que parece, Fernando Martins de Pinho, que ali teve bens, parece que por compra. Havia comprado vários na vizinha Joazim a D. Tereza ‘de Vila Maior’ (freguesia limítrofe), a qual foi a mãe do célebre Estêvão Peres de Tavares, o da lide de Gouveia, onde morreu seu sobrinho Vasco Mendes de Fonseca. A mãe deste, de fato, foi D. Maria Peres de Tavares e o pai D. Mem Gonçalves, considerado primeiro senhor da honra de Fonseca (cf. A. de Almeida Fernandes, Os Bezerras e a Torre Senhorial de Ferreirim, parágrafo 2o). Aquela D. de Tavares devia pertencer aos de Pinho por linha feminina. Compreende-se, pois, que a igreja de São João Batista, de Pinho, fosse, no século XIII, de ‘milites de pino et de fonseca’, seus padroeiros.

Parece que, de Martins Fernandes, foi filha D. Maior Martins, que casou-se com Lourenço Mendes ‘de Fonseca’, filho daquele (Fernando Martins de Pinho), tendo o filho João Fernandes ‘de Pinho’, que teve bens na vizinha Cotães (onde D. Maria Peres ‘de Tavares’ tivera Quinta, que doou a Salzedas, mosteiro onde se sepultou seu marido). Sua mãe, D. Sancha ‘de Taboadelo’, terra vizinha, ainda vivia em 1258, pois possuía os bens que seu marido (Fernando Martins) havia comprado em Joazim a D. Tereza de ‘de Vila Maior’. (Havia comprado aí, outros, que deixou à Ordem do Hospital, reinando, já, D. Afonso III).

O sucessor de Nuno na Quinta foi João Nunes de Pinho. Seu pai adquirira muitos bens na vizinha Joazim, por compra a D. Teresa ‘de Joazim’ e a D. Maria ‘Pequena’, e esses bens ficaram ao filho, com muitos outros, especialmente em Casal Novo (na vizinha paróquia de Ribafeita), para onde vários vilãos, que cultivavam uma meia fogueira, foram morar, despovoando-a (e todavia, contra o uso geral, continuando a cultivá-la – ao que só a residência lhes daria direito – decerto porque o senhor ‘de Pinho’ os protegia).

Em 1290, eram seus filhos os possuidores da ‘Quinta de Pinho’, a qual honrava toda a ‘vila’, onde possuía duas construções: o mosteiro de Merelim (que havia sido da própria ‘Quinta’ – doado, portanto, pelos senhores dela), e um, o de Santa Cruz (de Lafões). Não há dúvida de que a estirpe dos ‘de Pinho’ era senhora das honras de três freguesias cerca de São Pedro do Sul, pelo menos: Pinho, Ribafeita e Vila Maior, e nela entroncou a ‘dos Tavares’ por D. Teresa ‘de Vila Maior’, e ainda a dos ‘de Fonseca’, por intermédio desta.